sábado, 12 de novembro de 2011

Aparências do abismo

"[...] Está subjacente a esta obra um exercício sublimado que remete, de imediato, para uma aproximação a algo de mais profundo. Daí que na superfície da tela ou do papel, através de terras gretadas, de negros queimados, de cálidos carmesins e de inquietantes cinzentos, de materiais sólidos como a serapilheira, o cobre, o contraplacado de madeira, o ferro e o aço inoxidável se contextualize uma simultaneidade epistemológica em que a representação é limitada, o que não exclui nenhum significado possível, mas apenas linhas de um horizonte perdido, espaços desérticos, o vazio, nos quais encontramos o fervilhar do pensamento, facultando o momento da reflexão.

Mas... onde conduz esta introspecção que surge daquilo a que Barnett Newman chamou a “verdade do vazio”? Esse vazio conduz à plenitude, a partir do desconhecimento inerente a todo o princípio até que a obra esteja concluída. O caminho, o processo, não está previamente definido, vai-se descobrindo enquanto o trabalho vai tomando forma, à medida que a obra se vai construindo.

David de Almeida converte o espaço revelado no lugar da epifania, mas fá-lo devido a um registo variado de sugestões, baseadas em tonalidades e geometrias diversas, sem recorrer a convincentes preceitos morais perante os quais o espectador se possa sentir manipulado. A obra resulta então num espelho da consciência do homem que a concebe e é nessa exploração que o espectador se dá conta de como se pode encontrar a si mesmo.[...]"

Carlos Alcorta, Apariencias del abismo. In catálogo exposição David de Almeida, Sala Robayera. Miengo, Cantábria, Espanha. Março, 2011

Tradução de David de Almeida

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