quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NY - short story 2

Numa manhã destas encontrei-me com uma vizinha que passeava o cão. Na tarde desse mesmo dia - talvez um dia depois - o cão não era já o mesmo, era um upgrade do que vira anteriormente. No dia seguinte trazia dois, magros e descarnados (conheço mal as raças) como os corpos de algumas das velhinhas do quarteirão com a cabeça inchada de tantas intervenções plásticas (silicone no cérebro?).

Com um olhar mais atento notei que não tinha o ar sereno que lhe colara da primeira vez que a vira, pelo contrário havia traços de distância amarga no seu olhar.

Afinal eu não tenho uma vizinha que passeia o seu cão.

Eu cruzo-me à saída com uma imigrante vinda de Leste cujo trabalho é passear os cães das minhas vizinhas e das vizinhas das minhas vizinhas nos entremeios do trabalho que mantém num popular restaurante italiano do Village. Por ser vastamente frequentado por estudantes da NYU o ambiente é geralmente descontraído e animado mas o tip é magro, vindo-lhe daí a necessidade de tocar alguns dos instrumentos que a vida lhe vai colocando no caminho.

O que é a vida de cão?

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